O que 'causa' o Autismo?
- Aline D'Avila
- há 3 dias
- 4 min de leitura
Se você é pai, mãe ou cuidador e já se perguntou "o que causa o autismo?", saiba que essa é uma dúvida comum.
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição complexa, e entender suas causas pode ajudar a desmistificar o tema e apoiar melhor quem está no espectro. Neste artigo, explico o que a ciência atual nos diz sobre as origens do autismo.
O que a ciência dizer sobre a causa do autismo?
O autismo é uma condição neurodesenvolvimental que afeta a comunicação, a interação social e o comportamento. Ele é chamado de "espectro" porque se manifesta de formas muito variadas.
Mas o que causa o TEA? A resposta não é simples, pois o autismo resulta de uma combinação de fatores, principalmente genéticos e, em menor grau, ambientais.
1. Fatores genéticos
A ciência aponta que a genética desempenha um papel central no TEA. Estudos mostram que:
Mutações genéticas: algumas pessoas com autismo apresentam mutações raras em genes específicos que afetam o desenvolvimento do cérebro. Essas mutações podem ser herdadas ou surgir espontaneamente (mutações de novo).
Hereditariedade: o TEA tem um componente hereditário forte. Por exemplo, irmãos de uma criança com autismo têm maior probabilidade de também estarem no espectro. Estudos com gêmeos idênticos mostram taxas de concordância (quando ambos têm TEA) de até 90%, segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais DSM-5-TR.
Genes múltiplos: não existe um único "gene do autismo". Em vez disso, centenas de genes podem estar envolvidos, influenciando como o cérebro processa informações e se desenvolve.
Isso significa que, na maioria dos casos, o autismo não é causado por um único fator genético, mas por uma interação complexa de vários genes.
2. Fatores ambientais
Embora a genética seja o principal fator, alguns fatores ambientais durante a gestação podem aumentar o risco de TEA, mas não são causas diretas. Estudos recentes destacam:
Complicações pré-natais: exposição a infecções graves (como rubéola) ou medicamentos específicos, como ácido valproico, durante a gravidez.
Idade dos pais: pais mais velhos (especialmente acima dos 40 anos) têm uma probabilidade ligeiramente maior de ter filhos com TEA, possivelmente devido a mutações genéticas espontâneas.
Prematuridade ou baixo peso ao nascer: esses fatores podem estar associados, mas não são determinantes sozinhos.
É importante esclarecer que nenhum fator ambiental isolado causa o autismo. Além disso, vacinas NÃO causam autismo, um mito já desmentido por inúmeros estudos científicos robustos, como os conduzidos pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC).
3. Alterações no desenvolvimento cerebral
O TEA está associado a diferenças na estrutura e no funcionamento do cérebro. Pesquisas recentes, como as publicadas em revistas como Nature (2023), mostram que, em pessoas com autismo, há alterações em áreas do cérebro responsáveis por:
Conexões neurais (sinapses), que afetam a comunicação entre diferentes regiões cerebrais.
Processamento sensorial, o que explica sensibilidades a sons, luzes ou texturas.
Desenvolvimento precoce do córtex cerebral, que ocorre ainda no útero.
Essas diferenças começam a se formar durante a gestação, o que reforça a ideia de que o autismo é uma condição presente desde o início do desenvolvimento.
O que NÃO causa autismo?
É fundamental desmistificar algumas crenças erradas:
Criação ou comportamento dos pais: O autismo não é causado por "falta de atenção" ou "má educação". Essa ideia, conhecida como a teoria da "mãe geladeira", foi abandonada há décadas e não tem base científica.
Estilo de vida pós-nascimento: Dieta, tecnologia ou outros fatores após o nascimento não causam TEA, embora possam influenciar o bem-estar geral.
Vacinas: Como mencionado, estudos extensos comprovam que vacinas, como a tríplice viral, não têm relação com o autismo.
Por que entender as causas do autismo é importante?
Compreender as origens do autismo ajuda a:
Reduzir o estigma: saber que o TEA é uma condição neurobiológica, e não resultado de "culpas" ou escolhas, promove aceitação.
Apoiar intervenções precoces: Identificar o TEA cedo permite terapias que maximizem o potencial da criança, como fonoaudiologia, terapia ocupacional ou ABA (Análise do Comportamento Aplicada).
Orientar famílias: conhecer as causas ajuda pais e cuidadores a se conectarem com recursos e comunidades de apoio.
O que fazer se você suspeita de autismo?
Se você observa sinais de autismo no seu filho, como dificuldades na interação social ou comportamentos repetitivos, o próximo passo é buscar uma avaliação com um pediatra do desenvolvimento, psicólogo ou neurologista infantil.
O diagnóstico é clínico, baseado em observações e critérios dos manuais CID-11 e DSM-5-TR, e pode incluir ferramentas como o ADOS-2. Quanto mais cedo o diagnóstico, melhores são as chances de intervenções eficazes.
Conclusão
O autismo é uma condição complexa, com raízes principalmente genéticas e algumas influências ambientais pré-natais. Não há uma única causa, mas sim uma interação de fatores que moldam o desenvolvimento cerebral desde o início da vida. Entender isso é o primeiro passo para acolher e apoiar quem está no espectro.
Se você tem dúvidas ou quer saber mais, deixe um comentário ou entre em contato comigo! Estou aqui para ajudar você nessa jornada.
Referências:
American Psychiatric Association. (2022). Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-5-TR).
Organização Mundial da Saúde. (2019). Classificação Internacional de Doenças (CID-11).
Satterstrom, F. K., et al. (2020). Large-scale exome sequencing study implicates both developmental and functional changes in the neurobiology of autism. Cell, 180(3), 568–584.
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