Como saber se meu filho tem autismo?
- Aline D'Avila
- 17 de abr.
- 5 min de leitura
Atualizado: 25 de mai.
Se você já percebeu algo diferente no comportamento do seu filho, é normal que várias perguntas surjam: “Será que ele tem autismo?”, “Por que ele ainda não fala como outras crianças?”.
Essas dúvidas podem assustar, mas buscar informação confiável é o primeiro passo para ajudar nossos filhos. Neste artigo, vou explicar, de forma simples, como identificar os sinais do Transtorno do Espectro Autista (TEA) e o que podemos fazer.
O que é o Transtorno do Espectro Autista (TEA)?
O autismo, ou Transtorno do Espectro Autista (TEA), é uma condição que afeta o desenvolvimento do cérebro, especialmente a forma como a criança se comunica e interage com o mundo.
Ele é chamado de “espectro” porque cada criança é única: algumas precisam de pouco apoio, enquanto outras requerem mais ajuda no dia a dia. Segundo o DSM-5-TR, o autismo geralmente aparece nos primeiros anos de vida e envolve dois tipos principais de sinais:
Dificuldade para interagir, como compartilhar emoções ou fazer amigos.
Comportamentos repetitivos, como alinhar brinquedos ou reagir muito a barulhos e mudanças.
Os sintomas geralmente se manifestam nos primeiros anos de vida, embora possam ser reconhecidos mais tarde em casos mais leves.
O termo “espectro” reflete a ampla variabilidade na apresentação clínica, desde casos que requerem suporte mínimo até aqueles que demandam apoio substancial.
Níveis de Suporte no TEA
Hoje, não usamos mais termos como “Síndrome de Asperger” ou “autismo clássico”. Em vez disso, o DSM-5-TR divide o TEA em três níveis, dependendo de quanto suporte a criança precisa:
Nível 1 (Suporte leve): Dificuldades sociais e inflexibilidade comportamental que afetam parcialmente o funcionamento, mas com autonomia significativa.
Nível 2 (Suporte moderado): Desafios mais evidentes em comunicação e adaptação, exigindo suporte regular.
Nível 3 (Suporte severo): Comprometimentos significativos na comunicação e comportamento, com necessidade de apoio intensivo
Além disso, o “Transtorno Desintegrativo da Infância” foi removido como categoria diagnóstica distinta, sendo agora considerado sob outras condições neurodesenvolvimentais.
Como identificar sinais de autismo no seu filho?
Cada criança é diferente, mas alguns comportamentos podem indicar a necessidade de uma avaliação. Aqui estão os sinais mais comuns:
1. Dificuldades na interagir
Meu filho evita olhar nos olhos, mesmo quando chamo.
Não responde quando chamo pelo nome.
Prefere brincar sozinho e não busca outras crianças.
Não aponta para coisas que quer ou não usa gestos como “tchau”.
Não imita sorrisos ou ações simples.
Não gosta de brincar de faz de conta, como fingir ser um super-herói.
2. Comportamentos repetitivos
Organiza brinquedos em fileiras ou padrões sem motivo claro.
Foca em girar rodas de carrinhos ou mexer em partes de brinquedos.
Faz movimentos repetidos, como balançar as mãos ou o corpo.
Repete palavras ou frases sem contexto (isso se chama ecolalia).
Tem um interesse muito forte por algo específico, como trens ou números.
3. Sensibilidade diferente
Reage muito a barulhos, luzes ou texturas (ex.: chora com sons altos).
Parece não sentir dor ou não notar calor/frio.
Fica muito incomodado com mudanças na rotina, como uma alteração no horário.
Qual a idade para a identificação?
Embora os sinais possam surgir antes dos 2 anos, muitos casos são diagnosticados entre 3 e 5 anos, especialmente em crianças com sintomas mais sutis (Baio et al., 2018). Em alguns casos, o diagnóstico ocorre na adolescência ou idade adulta, particularmente em meninas, que podem apresentar comportamentos menos evidentes (Hull et al., 2020).
Como é Feito o Diagnóstico?
O diagnóstico de TEA é clínico, baseado em uma avaliação comportamental e desenvolvimental. Não há exames laboratoriais ou de imagem que confirmem o TEA. O processo envolve:
Observação clínica: avaliação do comportamento da criança por profissionais especializados.
Entrevistas com pais/cuidadores: relatos detalhados sobre o desenvolvimento e comportamento.
Instrumentos padronizados: ferramentas como M-CHAT-R/F (para triagem em crianças pequenas), ADOS-2 (para avaliação diagnóstica) e ADI-R (entrevista com pais).
Equipe multidisciplinar: inclui neuropediatras, psicólogos, fonoaudiólogos e terapeutas ocupacionais.
A avaliação também diferencia o TEA de outras condições, como transtorno de linguagem, TDAH ou deficiência intelectual. Estudos recentes destacam a importância da triagem precoce, idealmente entre 18 e 24 meses, para melhores desfechos (Pierce et al., 2021).
Intervenções e tratamento para Autismo
Não há cura para o TEA, mas intervenções precoces e individualizadas melhoram significativamente a qualidade de vida. As abordagens baseadas em evidências incluem:
Terapia comportamental: como o ABA, que ensina habilidades sociais e de comunicação.
Fonoaudiologia: ajuda com a fala ou comunicação não verbal.
Terapia ocupacional: melhora a coordenação e lida com sensibilidades.
Apoio na escola: planos adaptados para ajudar no aprendizado.
Apoio para a família: conversar com um psicólogo ou outros pais me dá força.
Pesquisas enfatizam que intervenções iniciadas antes dos 3 anos maximizam o desenvolvimento cognitivo e social (Zwaigenbaum et al., 2019). Além disso, o envolvimento familiar é crucial para o sucesso do tratamento.
A Importância da Avaliação Neuropsicológica
A avaliação neuropsicológica é uma ferramenta essencial para confirmar o diagnóstico e mapear as forças e desafios da criança. Ela analisa funções cognitivas, sociais, emocionais e comportamentais, fornecendo um plano de intervenção personalizado.
Essa abordagem é especialmente útil em casos de sintomas sutis ou quando há suspeita de condições comórbidas, como ansiedade ou TDAH (Hyman et al., 2020).
O que fazer se você suspeita de TEA?
Observe e anote: registre comportamentos que chamam sua atenção, como dificuldades sociais ou sensibilidades sensoriais.
Consulte um profissional: agende uma avaliação com um neuropediatra ou psicólogo especializado.
Busque apoio precoce: intervenções iniciais fazem grande diferença no desenvolvimento.
Conecte-se com outros pais: grupos de apoio oferecem acolhimento e troca de experiências.
Se algo no comportamento do seu filho está te preocupando, não deixe para depois. Agendar uma avaliação neuropsicológica pode ser o primeiro passo para entender o que está acontecendo e garantir o melhor cuidado.
A importância da avaliação neuropsicológica para o diagnóstico do autismo
Reconhecer os primeiros sinais do autismo é fundamental, mas é por meio da avaliação neuropsicológica que se torna possível confirmar o diagnóstico e compreender de forma mais profunda como o transtorno afeta o desenvolvimento da criança.
Essa avaliação investiga habilidades cognitivas, comportamentais, sociais e emocionais — oferecendo uma visão ampla e individualizada.
Se você percebeu comportamentos diferentes no seu filho ou tem dúvidas sobre o desenvolvimento dele, agende uma avaliação neuropsicológica. Cuidar agora é garantir um futuro com mais possibilidades.
Referências
American Psychiatric Association. (2022). Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, Fifth Edition, Text Revision (DSM-5-TR).
Baio, J., et al. (2018). Prevalence of Autism Spectrum Disorder Among Children Aged 8 Years. MMWR Surveillance Summaries, 67(6), 1–23.
Hull, L., et al. (2020). Gender differences in autism spectrum disorder: Evidence from a large sample of adults. Autism Research, 13(4), 567–578.
Hyman, S. L., et al. (2020). Identification, evaluation, and management of children with autism spectrum disorder. Pediatrics, 145(1), e20193447.
Lord, C., et al. (2018). Autism spectrum disorder. The Lancet, 392(10146), 508–520.
Pierce, K., et al. (2021). Get SET early: A model for early identification of autism spectrum disorder. Journal of Developmental & Behavioral Pediatrics, 42(4), 277–285.
Reichow, B., et al. (2018). Early intensive behavioral intervention (EIBI) for young children with autism spectrum disorders (ASD). Cochrane Database of Systematic Reviews, 5(5), CD009260.
Zwaigenbaum, L., et al. (2019). Early identification of autism spectrum disorder: Recommendations for practice and research. Pediatrics, 144(Supplement 1), S10–S25.
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