Como é feito o diagnóstico do autismo em adultos?
- Aline D'Avila

- 30 de set.
- 7 min de leitura
O autismo, ou Transtorno do Espectro Autista (TEA), é uma condição neurológica que acompanha a pessoa por toda a vida e afeta principalmente a forma como ela se comunica, se relaciona socialmente e percebe o mundo ao seu redor.
Apesar de o diagnóstico ser mais comum na infância, muita gente só descobre que está no espectro quando já é adulta, às vezes depois de anos sentindo que "tem algo diferente", sem saber exatamente o quê.
Isso acontece porque o autismo pode se apresentar de várias formas e em diferentes intensidades. Por isso o nome "espectro": ele engloba desde pessoas com grandes dificuldades de comunicação e autonomia, até aquelas que vivem de forma independente, mas enfrentam desafios mais sutis no convívio social, na rotina e na forma de lidar com o mundo.
Durante muito tempo, o conhecimento sobre o autismo foi limitado, e muitos adultos hoje em dia cresceram sem acesso a um diagnóstico, especialmente os que apresentam sinais mais leves.
Isso significa que uma pessoa pode passar décadas criando estratégias para se adaptar, sem perceber que essas dificuldades têm um nome, uma explicação e, o mais importante, podem ser compreendidas e acolhidas com o suporte certo.
Quais são os sinais de autismo em adultos?
Os sinais do autismo na vida adulta nem sempre são óbvios. Eles podem ser confundidos com traços de personalidade, como timidez, introspecção ou até mesmo "frescura" — o que faz com que muita gente demore a buscar ajuda, ou nem perceba que está enfrentando algo real.
A seguir, alguns dos sinais mais comuns:
Dificuldade em interações sociais: conversar com outras pessoas pode ser exaustivo. Entender ironias, duplas intenções ou regras sociais implícitas (tipo “o que é adequado dizer em tal situação”) nem sempre é fácil.
Sensação de “não se encaixar”: é comum o adulto autista sentir que sempre foi “diferente”, mesmo sem saber exatamente por quê.
Interesses intensos e específicos: mergulhar fundo em um assunto de interesse e falar sobre ele com entusiasmo é comum, mesmo que os outros não compartilhem da mesma empolgação.
Rotina rígida e resistência a mudanças: mudanças inesperadas no dia a dia podem causar grande desconforto. Há quem precise seguir sempre o mesmo trajeto, usar as mesmas roupas ou manter rituais bem definidos.
Hipersensibilidade sensorial: luzes fortes, cheiros intensos, barulhos ou até o toque de certos tecidos podem causar incômodo real, não é exagero.
Dificuldade para entender ou expressar emoções: tanto as próprias quanto as dos outros. Isso pode impactar relacionamentos, tanto pessoais quanto profissionais.
É importante lembrar que nem todo mundo apresenta todos esses sinais. Cada pessoa dentro do espectro é única, e essa individualidade, inclusive, é uma das razões pelas quais o diagnóstico em adultos exige uma avaliação cuidadosa e personalizada.
Ah, e vale dizer: mulheres muitas vezes passam ainda mais despercebidas no espectro, porque aprendem desde cedo a mascarar sinais para se adaptar socialmente. Isso atrasa (ou até impede) o diagnóstico em muitos casos.
Como é feito o diagnóstico de autismo em adultos?
O diagnóstico de autismo na vida adulta costuma ser um processo diferente do que acontece na infância. Em muitos casos, não há registros detalhados do desenvolvimento da pessoa quando criança — o que pode tornar a avaliação mais desafiadora. Além disso, muitos adultos já criaram mecanismos para se adaptar ao dia a dia, o que pode “mascarar” alguns sinais do espectro.
Por isso, mais do que aplicar um teste ou checklist, o diagnóstico depende de uma avaliação clínica aprofundada, feita por profissionais especializados, como psiquiatras, neurologistas e psicólogos com experiência em TEA.
Esse processo geralmente envolve:
Entrevistas clínicas para entender a história de vida, comportamento, funcionamento social e emocional da pessoa;
Observação direta de comportamentos que possam estar alinhados aos critérios diagnósticos do TEA;
Aplicação de instrumentos padronizados, como escalas ou testes reconhecidos internacionalmente (vamos falar deles a seguir);
Avaliação de possíveis comorbidades, como ansiedade, TDAH, depressão ou transtornos do sono, que podem coexistir com o autismo e influenciar os sintomas.
Não existe um exame de sangue, de imagem ou genético que, sozinho, confirme o diagnóstico de TEA. Por isso, o olhar clínico qualificado é indispensável e quanto mais especializada for a equipe, melhor será o processo de avaliação.
Existe teste de autismo para adultos?
Sim, existem testes e escalas que ajudam a identificar traços do espectro em adultos. Mas é importante saber: esses testes não servem como diagnóstico fechado, e sim como ferramentas de apoio dentro de uma avaliação mais ampla.
Alguns dos instrumentos mais utilizados incluem:
RAADS-R (Ritvo Autism Asperger Diagnostic Scale – Revised): questionário com cerca de 80 perguntas que avalia aspectos sociais, sensoriais, linguagem e comportamento. É um dos mais aplicados em adultos.
AQ (Autism Spectrum Quotient): desenvolvido pelo pesquisador Simon Baron-Cohen, é um questionário rápido, usado como triagem inicial.
ADOS-2 (Autism Diagnostic Observation Schedule): é um dos instrumentos mais completos, usado em contextos clínicos. Avalia comunicação, interação social e comportamentos repetitivos.
Além desses, o profissional pode usar entrevistas estruturadas, observações e relatórios de familiares (quando possível). Alguns testes online podem servir como ponto de partida, mas não devem ser usados para autodiagnóstico definitivo.
Como obter laudo de autismo adulto?
Se você suspeita que possa estar no espectro e deseja um diagnóstico formal (com laudo), o primeiro passo é buscar um profissional de saúde mental com experiência em TEA adulto. O ideal é procurar:
Psiquiatra, neurologista ou psicólogo clínico;
Preferencialmente com formação em avaliação diagnóstica do espectro;
Que utilize métodos reconhecidos, alinhados ao que é recomendado pelo DSM-5 e CID-11.
Durante a avaliação neuropsicológica, é importante ser o mais honesto e detalhado possível nas respostas. Quanto mais informações sobre sua história, rotina, dificuldades e estratégias de adaptação forem compartilhadas, mais preciso será o parecer profissional.
Após a conclusão da análise, o profissional pode emitir um laudo psicológico ou psiquiátrico, que descreve o diagnóstico de TEA, o nível de suporte necessário e, quando aplicável, recomendações terapêuticas.
Esse laudo pode ser importante para:
Ter acesso a tratamentos específicos;
Garantir direitos assegurados por lei (como políticas de inclusão);
Conseguir adaptações no ambiente de trabalho ou estudos.
Se você não tiver acesso fácil à rede particular, vale verificar se há atendimento via SUS na sua cidade, em alguns locais, centros especializados oferecem esse tipo de avaliação gratuitamente ou com encaminhamento.
Quais são as intervenções para o autismo em adultos?
Ao contrário do que muita gente pensa, o diagnóstico de autismo na vida adulta não significa que “não há mais o que fazer”. Muito pelo contrário: identificar que uma pessoa está no espectro é um passo importante para que ela receba o suporte certo — personalizado, respeitoso e voltado às suas necessidades reais.
As intervenções variam bastante, já que o TEA se manifesta de forma única em cada pessoa. Não existe uma fórmula pronta, mas sim uma combinação de estratégias terapêuticas que visam melhorar a qualidade de vida, desenvolver habilidades e lidar melhor com os desafios do dia a dia.
As principais abordagens incluem:
Psicoterapia individual: A terapia cognitivo-comportamental (TCC) é uma das mais indicadas, ajudando a lidar com ansiedade social, organização da rotina, rigidez cognitiva e outros pontos específicos.
Terapia ocupacional: Foca na autonomia, organização do cotidiano, planejamento de tarefas e adaptação de ambientes para maior funcionalidade.
Fonoaudiologia (quando necessário): Para adultos que enfrentam dificuldades com comunicação verbal ou não verbal, a fono pode ajudar bastante no desenvolvimento de habilidades expressivas e na compreensão social.
Treinamento de habilidades sociais: Ajuda a pessoa a entender códigos sociais, lidar com conversas, desenvolver empatia cognitiva e emocional, e interpretar situações do convívio interpessoal.
Grupos de apoio e comunidades neurodivergentes: Compartilhar experiências com outras pessoas no espectro pode trazer acolhimento, aprendizado e sentimento de pertencimento.
Além disso, algumas pessoas também fazem uso de medicação, principalmente em casos de comorbidades como ansiedade, TDAH ou depressão — sempre com prescrição médica e acompanhamento.
Importante: a intervenção não tem o objetivo de “curar” o autismo — porque o autismo não é uma doença. O foco está em melhorar a qualidade de vida, promover autonomia e respeitar a forma única como cada pessoa percebe e interage com o mundo.
Como lidar com os desafios do TEA na vida adulta?
Viver com autismo na fase adulta pode trazer desafios em várias áreas: no trabalho, nos relacionamentos, na rotina e até no cuidado com a saúde mental. Muitas vezes, esses desafios são agravados pela falta de informação, empatia e acolhimento tanto da sociedade quanto dos próprios ambientes onde essas pessoas estão inseridas.
A boa notícia é que, com autoconhecimento e suporte adequado, é possível construir uma vida mais leve, funcional e autêntica.
Algumas estratégias que ajudam bastante:
Aceite o diagnóstico como um ponto de partida, não de limitação. Saber que você é autista pode explicar muitas coisas do passado e abrir novas possibilidades para o futuro.
Crie rotinas estruturadas, com horários definidos e ambientes organizados. Isso ajuda a reduzir a sobrecarga mental e traz previsibilidade.
Use ferramentas de apoio: aplicativos de organização, agendas visuais, lembretes e checklists são grandes aliados.
Converse com pessoas de confiança sobre suas necessidades. Explicar seus limites ajuda os outros a respeitá-los e também fortalece suas relações.
Busque ambientes profissionais mais inclusivos: com políticas de diversidade neurodivergente, que valorizam habilidades únicas e ofereçam adaptações justas.
Priorize o autocuidado mental e emocional. Terapia, atividades que te tragam prazer e momentos de descanso são parte essencial da sua qualidade de vida.
Lidar com o TEA na vida adulta não significa eliminar as dificuldades, mas sim aprender a conviver com elas de maneira mais saudável e estratégica, entendendo que não há nada de errado em funcionar de um jeito diferente.
Quais são os sinais de autismo em adultos?
Embora esse tópico já tenha sido abordado acima, vamos reforçar aqui os principais pontos — até porque ele é uma dúvida comum em quem começa a pesquisar sobre o assunto.
O autismo em adultos pode se apresentar de maneira sutil, e por isso muitas pessoas só descobrem que estão no espectro depois de viver anos com angústias internas, dificuldades sociais ou sentimentos de inadequação.
Sinais comuns em adultos autistas:
Sensação constante de ser “diferente” ou de não se encaixar socialmente
Dificuldade em manter conversas espontâneas ou fazer amigos
Preferência por rotinas fixas e desconforto com mudanças inesperadas
Foco intenso em temas de interesse (às vezes considerados “esquisitos” pelos outros)
Hipersensibilidade a sons, luzes, cheiros ou tl
exturas
Dificuldade em interpretar expressões faciais, tom de voz ou linguagem corporal
Exaustão após interações sociais, mesmo com pessoas próximas
Tendência a “mascarar” comportamentos autistas em ambientes públicos (especialmente comum em mulheres)
Se você se identificou com vários desses sinais, pode ser interessante buscar uma avaliação profissional. Entender o próprio funcionamento é um passo poderoso para viver de forma mais consciente e autêntica.



Comentários