Qual a diferença entre TOD e TDAH?
- Aline D'Avila

- há 18 horas
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Entender os transtornos que afetam o comportamento e o desenvolvimento de crianças e adolescentes é um dos maiores desafios para pais, professores e profissionais da saúde. Entre os quadros mais estudados — e frequentemente confundidos — estão o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e o Transtorno Opositivo-Desafiador (TOD).
Embora compartilhem certos comportamentos na superfície (como desobediência, impulsividade e dificuldade com regras), TOD e TDAH possuem origens distintas, impactos diferentes no cérebro e abordagens específicas de tratamento.
O que é TDAH?
O TDAH é um transtorno neurobiológico crônico que afeta as funções executivas do cérebro, ou seja, os processos mentais responsáveis por:
Planejamento
Controle de impulsos
Tomada de decisão
Memória de trabalho
Regulação da atenção
Características principais:
Déficit de atenção: dificuldade para manter o foco, começar e concluir tarefas, distrações frequentes.
Hiperatividade: inquietação motora (movimentar-se constantemente, mesmo quando não apropriado), sensação interna de agitação.
Impulsividade: tomar atitudes sem pensar nas consequências, interromper os outros, dificuldade de esperar.
Do ponto de vista neurofuncional, estudos com neuroimagem mostram hipoatividade em áreas como o córtex pré-frontal e os gânglios da base, regiões diretamente ligadas à autorregulação e tomada de decisão.
O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) reconhece três subtipos de TDAH:
Predominantemente desatento
Predominantemente hiperativo-impulsivo
Combinado (mais comum)
O que é TOD?
Diferente do TDAH, o TOD é classificado como um transtorno disruptivo do comportamento. Ou seja, ele envolve padrões duradouros de atitudes negativistas, desobedientes e desafiadoras, não por falhas neurológicas em atenção ou controle motor, mas por padrões emocionais e comportamentais aprendidos e repetidos.
Características principais:
Irritabilidade persistente
Atos deliberados de desafio e provocação
Discussões frequentes com adultos e figuras de autoridade
Tendência a culpar os outros por seus erros
Rancor e comportamento vingativo
O TOD está profundamente ligado a fatores ambientais, relacionais e emocionais, como:
Estilo parental punitivo, autoritário ou negligente
Exposição a estresse tóxico na infância
Modelagem de comportamento agressivo (em casa ou na escola)
Histórico de traumas não tratados
Neuropsicologicamente, há indícios de alterações na regulação emocional e nos sistemas de recompensa, mas o TOD não é, necessariamente, um transtorno do neurodesenvolvimento como o TDAH.
Qual a diferenciar do TDAH e TOD?
Enquanto o TDAH afeta o funcionamento cerebral em níveis atencionais e executivos, o TOD representa uma reação comportamental emocional ao ambiente.
Compare os dois:
O TDAH leva a comportamentos impulsivos ou desorganizados sem intenção clara.
O TOD leva a comportamentos desafiadores ou provocativos com intenção deliberada.
Crianças com TDAH não conseguem controlar seus atos por déficit de autorregulação; já crianças com TOD testam limites e desafiam regras por estratégia relacional, emocional ou padrão aprendido.
É como se o TDAH fosse "não consigo parar", enquanto o TOD fosse "não quero parar".
Pode ter TDAH e TOD juntos?
Sim, e isso é extremamente comum. De acordo com o Child Mind Institute, entre 40% e 60% das crianças com TDAH também preenchem critérios para TOD. Essa coexistência (comorbidade) representa um quadro mais complexo, pois combina:
Impulsividade sem controle (TDAH)
Resistência emocional a regras e frustrações (TOD)
Esse tipo de combinação costuma gerar:
Conflitos intensos com pais, professores e colegas
Rendimento escolar muito prejudicado
Risco de desenvolver transtornos de conduta ou transtornos de humor na adolescência
Por isso, o diagnóstico precoce e o tratamento multidisciplinar são fundamentais.
Como é uma crise de TOD?
Ao contrário das explosões impulsivas do TDAH, a crise no TOD é mais planejada, intensa e prolongada. Ela pode ocorrer em situações banais, como:
Receber um “não”
Ser solicitado a realizar uma tarefa
Perceber que perdeu uma competição
Durante a crise, é comum:
Gritos e palavrões
Agressividade física ou verbal
Negação absoluta a seguir instruções
Tentativa de intimidar o adulto
Incapacidade de ouvir ou negociar
Muitas vezes, após a crise, a criança não demonstra arrependimento, pois vê o comportamento como uma forma de reafirmar controle ou autonomia.
Quem tem TOD é considerado especial?
Depende do contexto e da legislação.
Do ponto de vista clínico, TOD não é considerado uma deficiência, mas sim um transtorno comportamental.
No entanto, o diagnóstico pode garantir apoio psicopedagógico, adaptações escolares e inclusão em programas de educação especial ou inclusiva, especialmente se houver comorbidades (como TDAH, TEA ou dificuldades de aprendizagem).
A legislação brasileira (Lei Brasileira de Inclusão - LBI) prevê direitos educacionais para qualquer criança com necessidades específicas de desenvolvimento ou aprendizagem, mesmo que não possua laudo de deficiência formal.
Como é feito o diagnóstico de TOD e TDAH?
Nenhum dos dois transtornos pode ser diagnosticado por teste único. O diagnóstico envolve:
Avaliação neuropsicológica detalhada com psicólogo ou psiquiatra infantil
Entrevistas com pais, cuidadores e professores
Questionários padronizados (ex: SNAP-IV, CBCL)
Observação do comportamento da criança em diferentes contextos
É fundamental descartar outras condições, como:
Transtornos do espectro autista (TEA)
Depressão infantil
Estresse pós-traumático
O diagnóstico incorreto pode levar a intervenções inadequadas, agravando os sintomas ao invés de tratá-los.
Tratamento: o que a ciência recomenda?
Para TDAH:
Psicoeducação familiar e escolar
Terapia cognitivo-comportamental (TCC)
Medicação (como metilfenidato ou atomoxetina)
Adaptações pedagógicas
Para TOD:
Terapia familiar e de habilidades parentais
Terapia comportamental com foco em regulação emocional
Treinamento de habilidades sociais
Intervenção precoce no ambiente escolar
Em casos mais graves, pode haver necessidade de acompanhamento psiquiátrico contínuo
O tratamento é multifatorial e deve envolver família, escola e profissionais de saúde mental. Em ambos os casos, o envolvimento ativo dos pais é parte central da recuperação.
Conclusão
O TDAH e o TOD são transtornos diferentes, mas que podem coexistir e impactar fortemente o desenvolvimento emocional, social e acadêmico da criança. Enquanto o TDAH compromete o foco e o autocontrole, o TOD desafia diretamente a autoridade e as regras sociais.
A compreensão profunda dessas condições permite um olhar mais empático e estratégico sobre o comportamento da criança. Mais do que rotular, o objetivo é oferecer suporte, garantir inclusão e promover o desenvolvimento saudável.
Se você convive com uma criança que apresenta sintomas semelhantes, busque ajuda especializada o quanto antes. A intervenção precoce é um dos fatores mais importantes para o sucesso no tratamento.



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