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Qual a diferença entre TOD e TDAH?

  • Foto do escritor: Aline D'Avila
    Aline D'Avila
  • há 18 horas
  • 4 min de leitura

Entender os transtornos que afetam o comportamento e o desenvolvimento de crianças e adolescentes é um dos maiores desafios para pais, professores e profissionais da saúde. Entre os quadros mais estudados — e frequentemente confundidos — estão o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e o Transtorno Opositivo-Desafiador (TOD).


Embora compartilhem certos comportamentos na superfície (como desobediência, impulsividade e dificuldade com regras), TOD e TDAH possuem origens distintas, impactos diferentes no cérebro e abordagens específicas de tratamento.


O que é TDAH?

O TDAH é um transtorno neurobiológico crônico que afeta as funções executivas do cérebro, ou seja, os processos mentais responsáveis por:


  • Planejamento

  • Controle de impulsos

  • Tomada de decisão

  • Memória de trabalho

  • Regulação da atenção


Características principais:

  • Déficit de atenção: dificuldade para manter o foco, começar e concluir tarefas, distrações frequentes.

  • Hiperatividade: inquietação motora (movimentar-se constantemente, mesmo quando não apropriado), sensação interna de agitação.

  • Impulsividade: tomar atitudes sem pensar nas consequências, interromper os outros, dificuldade de esperar.


Do ponto de vista neurofuncional, estudos com neuroimagem mostram hipoatividade em áreas como o córtex pré-frontal e os gânglios da base, regiões diretamente ligadas à autorregulação e tomada de decisão.


O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) reconhece três subtipos de TDAH:

  • Predominantemente desatento

  • Predominantemente hiperativo-impulsivo

  • Combinado (mais comum)


O que é TOD?


Diferente do TDAH, o TOD é classificado como um transtorno disruptivo do comportamento. Ou seja, ele envolve padrões duradouros de atitudes negativistas, desobedientes e desafiadoras, não por falhas neurológicas em atenção ou controle motor, mas por padrões emocionais e comportamentais aprendidos e repetidos.


Características principais:

  • Irritabilidade persistente

  • Atos deliberados de desafio e provocação

  • Discussões frequentes com adultos e figuras de autoridade

  • Tendência a culpar os outros por seus erros

  • Rancor e comportamento vingativo

O TOD está profundamente ligado a fatores ambientais, relacionais e emocionais, como:

  • Estilo parental punitivo, autoritário ou negligente

  • Exposição a estresse tóxico na infância

  • Modelagem de comportamento agressivo (em casa ou na escola)

  • Histórico de traumas não tratados

Neuropsicologicamente, há indícios de alterações na regulação emocional e nos sistemas de recompensa, mas o TOD não é, necessariamente, um transtorno do neurodesenvolvimento como o TDAH.


Qual a diferenciar do TDAH e TOD?


Enquanto o TDAH afeta o funcionamento cerebral em níveis atencionais e executivos, o TOD representa uma reação comportamental emocional ao ambiente.


Compare os dois:

  • O TDAH leva a comportamentos impulsivos ou desorganizados sem intenção clara.

  • O TOD leva a comportamentos desafiadores ou provocativos com intenção deliberada.

Crianças com TDAH não conseguem controlar seus atos por déficit de autorregulação; já crianças com TOD testam limites e desafiam regras por estratégia relacional, emocional ou padrão aprendido.


É como se o TDAH fosse "não consigo parar", enquanto o TOD fosse "não quero parar".


Pode ter TDAH e TOD juntos?


Sim, e isso é extremamente comum. De acordo com o Child Mind Institute, entre 40% e 60% das crianças com TDAH também preenchem critérios para TOD. Essa coexistência (comorbidade) representa um quadro mais complexo, pois combina:

  • Impulsividade sem controle (TDAH)

  • Resistência emocional a regras e frustrações (TOD)

Esse tipo de combinação costuma gerar:

  • Conflitos intensos com pais, professores e colegas

  • Rendimento escolar muito prejudicado

  • Risco de desenvolver transtornos de conduta ou transtornos de humor na adolescência

Por isso, o diagnóstico precoce e o tratamento multidisciplinar são fundamentais.


Como é uma crise de TOD?


Ao contrário das explosões impulsivas do TDAH, a crise no TOD é mais planejada, intensa e prolongada. Ela pode ocorrer em situações banais, como:

  • Receber um “não”

  • Ser solicitado a realizar uma tarefa

  • Perceber que perdeu uma competição


Durante a crise, é comum:

  • Gritos e palavrões

  • Agressividade física ou verbal

  • Negação absoluta a seguir instruções

  • Tentativa de intimidar o adulto

  • Incapacidade de ouvir ou negociar


Muitas vezes, após a crise, a criança não demonstra arrependimento, pois vê o comportamento como uma forma de reafirmar controle ou autonomia.


Quem tem TOD é considerado especial?


Depende do contexto e da legislação.

  • Do ponto de vista clínico, TOD não é considerado uma deficiência, mas sim um transtorno comportamental.

  • No entanto, o diagnóstico pode garantir apoio psicopedagógico, adaptações escolares e inclusão em programas de educação especial ou inclusiva, especialmente se houver comorbidades (como TDAH, TEA ou dificuldades de aprendizagem).


A legislação brasileira (Lei Brasileira de Inclusão - LBI) prevê direitos educacionais para qualquer criança com necessidades específicas de desenvolvimento ou aprendizagem, mesmo que não possua laudo de deficiência formal.


Como é feito o diagnóstico de TOD e TDAH?


Nenhum dos dois transtornos pode ser diagnosticado por teste único. O diagnóstico envolve:

  • Avaliação neuropsicológica detalhada com psicólogo ou psiquiatra infantil

  • Entrevistas com pais, cuidadores e professores

  • Questionários padronizados (ex: SNAP-IV, CBCL)

  • Observação do comportamento da criança em diferentes contextos


É fundamental descartar outras condições, como:

  • Transtornos do espectro autista (TEA)

  • Depressão infantil

  • Ansiedade

  • Estresse pós-traumático


O diagnóstico incorreto pode levar a intervenções inadequadas, agravando os sintomas ao invés de tratá-los.


Tratamento: o que a ciência recomenda?


Para TDAH:

  • Psicoeducação familiar e escolar

  • Terapia cognitivo-comportamental (TCC)

  • Medicação (como metilfenidato ou atomoxetina)

  • Adaptações pedagógicas

Para TOD:

  • Terapia familiar e de habilidades parentais

  • Terapia comportamental com foco em regulação emocional

  • Treinamento de habilidades sociais

  • Intervenção precoce no ambiente escolar

  • Em casos mais graves, pode haver necessidade de acompanhamento psiquiátrico contínuo


O tratamento é multifatorial e deve envolver família, escola e profissionais de saúde mental. Em ambos os casos, o envolvimento ativo dos pais é parte central da recuperação.


Conclusão


O TDAH e o TOD são transtornos diferentes, mas que podem coexistir e impactar fortemente o desenvolvimento emocional, social e acadêmico da criança. Enquanto o TDAH compromete o foco e o autocontrole, o TOD desafia diretamente a autoridade e as regras sociais.


A compreensão profunda dessas condições permite um olhar mais empático e estratégico sobre o comportamento da criança. Mais do que rotular, o objetivo é oferecer suporte, garantir inclusão e promover o desenvolvimento saudável.


Se você convive com uma criança que apresenta sintomas semelhantes, busque ajuda especializada o quanto antes. A intervenção precoce é um dos fatores mais importantes para o sucesso no tratamento.

 
 
 

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