Qual a diferença e tratamento do TDAH e Ansiedade
- Aline D'Avila
- 2 de dez. de 2024
- 4 min de leitura
Atualizado: 15 de abr.
Você sabe qual a diferença e tratamento do TDAH e Ansiedade? A ansiedade e o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) são condições neuropsiquiátricas distintas, mas frequentemente coexistem e compartilham sintomas que podem dificultar seu diagnóstico.
Ambas as condições apresentam desafios cognitivos e emocionais significativos que afetam a vida diária dos indivíduos, mas suas manifestações, causas e tratamentos são diferentes.
TDAH: características diagnósticas e impacto cognitivo
De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - DSM-5-TR (APA, 2022) o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é uma condição neurodesenvolvimental caracterizada por padrões persistentes de desatenção, hiperatividade e impulsividade.
Esses sintomas causam prejuízos significativos no desempenho acadêmico, social e ocupacional do indivíduo. Os principais critérios para diagnóstico de TDAH incluem:
Desatenção: dificuldade em manter o foco em tarefas ou atividades, tendência a se distrair facilmente, esquecimento frequente de compromissos ou objetos importantes, e desorganização ao lidar com atividades cotidianas.
Hiperatividade/Impulsividade: comportamento marcado por inquietação constante, dificuldade em permanecer sentado por longos períodos, interrupção frequente de conversas ou atividades alheias, e tomadas de decisão impulsivas, muitas vezes sem considerar as consequências.
O TDAH está intimamente relacionado a déficits nas funções executivas, que são habilidades cognitivas essenciais para o planejamento, organização e regulação do comportamento. Entre as principais disfunções cognitivas estão:
Déficit de memória de trabalho: dificuldade em manter e manipular informações temporárias, essencial para tarefas que exigem múltiplas etapas.
Dificuldade no planejamento e organização: incapacidade de estruturar e gerenciar atividades complexas ou que exigem sequência lógica.
Problemas de controle inibitório: comprometimento na capacidade de inibir impulsos e respostas automáticas inadequadas.
Regulação emocional prejudicada: dificuldade em controlar reações emocionais intensas, levando a explosões de raiva, frustração ou mudanças bruscas de humor.
Estudos neurocientíficos indicam que as dificuldades cognitivas associadas ao TDAH estão relacionadas as disfunções nos circuitos fronto-estriatais, que conectam o córtex pré-frontal ao núcleo estriado. Essas regiões são responsáveis pelo controle das funções executivas, regulação emocional e comportamento motor.
Além disso, há uma implicação significativa dos sistemas dopaminérgico e noradrenérgico, que desempenham um papel crucial na modulação da atenção, motivação e controle de impulsos (Barkley, 2015).
Essas alterações neurobiológicas explicam a persistência dos sintomas, mesmo em ambientes estruturados, e reforçam a necessidade de intervenções terapêuticas direcionadas para melhorar o funcionamento executivo e a autorregulação.
Ansiedade: características diagnósticas e impacto cognitivo
De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - DSM-5-TR (APA, 2022) os transtornos de ansiedade são caracterizados por uma preocupação excessiva, persistente e difícil de controlar, que afeta significativamente a funcionalidade diária da pessoa, impactando seu desempenho social, profissional e pessoal.
Entre os transtornos de ansiedade mais comuns estão o Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG), o Transtorno de Ansiedade Social e o Transtorno de Pânico.
Cognitivamente, a ansiedade está associada a uma série de dificuldades que afetam o processamento de informações e o desempenho em atividades cotidianas. Dentre elas:
Ruminação: pensamentos repetitivos e intrusivos focados em eventos negativos, muitas vezes hipotéticos, que aumentam a sensação de estresse e perpetuam a preocupação.
Sobrecarga da memória de trabalho: dificulta a capacidade de manter e manipular informações relevantes, uma vez que a mente está constantemente ocupada com preocupações.
Hipervigilância: estado de alerta aumentado para ameaças percebidas, que prejudica a concentração e aumenta a sensibilidade a estímulos externos.
Essas dificuldades cognitivas estão relacionadas a alterações neurobiológicas, particularmente na amígdala, responsável pela detecção de ameaças e processamento emocional, no córtex pré-frontal, que regula o controle executivo e a tomada de decisões, e no eixo hipotalâmico-pituitário-adrenal (HPA), envolvido na resposta ao estresse.
Disfunções nesses sistemas contribuem para a persistência dos sintomas ansiosos e o comprometimento das funções cognitivas (Spielberger et al., 2018).
TDAH x Ansiedade
Quando TDAH e ansiedade coexistem, os desafios cognitivos podem ser ainda mais complexos. Alguns exemplos comuns de dificuldades no dia a dia incluem:
Falta de foco e preocupação constante: indivíduos com ambos os diagnósticos podem ter dificuldade em se concentrar em tarefas importantes devido à distração fácil (TDAH) e ao pensamento ansioso recorrente (ansiedade).
Problemas de organização: enquanto o TDAH afeta diretamente a capacidade de planejar e organizar, a ansiedade pode piorar essa dificuldade ao gerar procrastinação devido ao medo de falhar.
Regulação emocional prejudicada: a impulsividade do TDAH e a hipervigilância da ansiedade podem resultar em explosões emocionais ou evitação social.
Essas dificuldades frequentemente levam a problemas acadêmicos, baixa produtividade no trabalho, dificuldades em relacionamentos e baixa autoestima. O diagnóstico diferencial entre TDAH e ansiedade é crucial para a eficácia do tratamento.
Embora ambas as condições compartilhem sintomas como desatenção, inquietação e dificuldade de concentração, suas origens e manifestações diferem significativamente, exigindo abordagens terapêuticas distintas.
A utilização de escalas padronizadas, entrevistas clínicas detalhadas e avaliações neuropsicológicas abrangentes é fundamental para distinguir com precisão entre os dois transtornos, especialmente em casos onde há uma sobreposição significativa de sintomas.
Esses instrumentos permitem identificar os padrões específicos de desatenção no TDAH, geralmente relacionados a déficits nas funções executivas, em contraste com a desatenção na ansiedade, frequentemente decorrente de ruminação e hipervigilância.
Erros diagnósticos podem resultar em intervenções inadequadas, como a prescrição de estimulantes para indivíduos cuja principal dificuldade é a ansiedade. Nesses casos, o uso de medicamentos estimulantes pode exacerbar os sintomas ansiosos, intensificando a preocupação, a insônia e a agitação, ao invés de proporcionar alívio.
Portanto, um diagnóstico correto não apenas evita complicações, mas também direciona o paciente para um tratamento mais eficaz, personalizado às suas necessidades específicas.
Conclusão
Embora o TDAH e a ansiedade possam apresentar sintomas semelhantes, as diferenças em suas dificuldades cognitivas são fundamentais para um diagnóstico e tratamento corretos. Uma abordagem neuropsicológica detalhada, aliada a intervenções baseadas na Terapia Cognitivo Comportamental, pode melhorar significativamente a qualidade de vida dos pacientes, ajudando-os a gerenciar seus desafios cognitivos de forma mais eficaz.
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Referências
American Psychiatric Association. (2022). Diagnostic and statistical manual of mental disorders (5th ed., Text Revision). American Psychiatric Publishing.
Organização Mundial da Saúde (OMS). (2022). Classificação Internacional de Doenças - CID-11.
Barkley, R. A. (2015). Attention-Deficit Hyperactivity Disorder: A Handbook for Diagnosis and Treatment. 4ª edição. Guilford Press.
Spielberger, C. D., Gorsuch, R. L., & Lushene, R. E. (2018). Manual for the State-Trait Anxiety Inventory.
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