O que é o autismo?
- Aline D'Avila
- 6 de ago.
- 9 min de leitura
Atualizado: 9 de ago.
O autismo é um tema que desperta dúvidas, especialmente entre pais, educadores e pessoas que convivem com alguém no espectro.
Saber o que é o Transtorno do Espectro Autista (TEA) é o primeiro passo para promover a inclusão, o acolhimento e o respeito às diferenças.
Neste artigo, vamos explicar de forma acessível e atualizada o que é o autismo, como ele se manifesta, e por que é tão importante compreender que não se trata de uma doença, mas sim de uma condição neurológica com diferentes formas de expressão.
O que é o Transtorno do Espectro Autista (TEA)?
O autismo, também chamado de Transtorno do Espectro Autista (TEA), é uma condição do neurodesenvolvimento que afeta a forma como a pessoa se comunica, interage socialmente e percebe o ambiente ao seu redor.
De acordo com o manual diagnóstico DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) e a CID-11 (Classificação Internacional de Doenças da OMS), o TEA é classificado como um transtorno do neurodesenvolvimento com início nos primeiros anos da infância e duração ao longo da vida.
As manifestações do autismo são bastante variadas — por isso a palavra “espectro” é usada. Cada pessoa autista é única, com diferentes níveis de habilidades, desafios e necessidades de suporte.
Algumas têm dificuldades significativas na fala e na interação social, enquanto outras conseguem se comunicar bem, mas apresentam comportamentos repetitivos, apego intenso à rotina ou sensibilidade sensorial.
Importante ressaltar: o autismo não é uma doença. Não se trata de algo que precise ser “curado”, mas compreendido. É uma forma diferente de funcionamento neurológico — e, com apoio adequado, pessoas autistas podem se desenvolver plenamente, estudar, trabalhar, se relacionar e viver com qualidade de vida.

Quais são as principais características do autismo?
As características do Transtorno do Espectro Autista (TEA) variam bastante de pessoa para pessoa. No entanto, a DSM-5 define dois grandes grupos de manifestações:
Déficits persistentes na comunicação social e na interação socialPadrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades
A seguir, explicamos os sinais mais comuns do autismo observados tanto em crianças quanto em adultos, divididos em quatro áreas principais.
Comunicação e linguagem
Um dos primeiros sinais do autismo pode surgir na forma como a criança se comunica. Algumas não desenvolvem a fala no tempo esperado, enquanto outras falam normalmente, mas têm dificuldades em manter uma conversa ou entender nuances sociais da linguagem.
Possíveis sinais:
Atraso ou ausência de fala
Uso de linguagem repetitiva (ecolalia)
Dificuldade em iniciar ou manter diálogos
Uso literal da linguagem, sem entender piadas ou ironias
Pouca ou nenhuma linguagem gestual (apontar, acenar)
Interação social
A dificuldade em compreender regras sociais é uma das marcas do TEA. A criança pode parecer indiferente à presença de outras pessoas, não buscar interação ou ter dificuldade em compartilhar interesses.
Possíveis sinais:
Evita ou não sustenta contato visual
Pouco interesse em brincar com outras crianças
Falta de empatia aparente (embora possa sentir, não expressa da forma esperada)
Não responde ao próprio nome com regularidade
Dificuldade em interpretar expressões faciais, gestos e emoções alheias
Comportamentos repetitivos e rotinas fixas
Pessoas autistas costumam ter rituais e padrões de comportamento fixos, que oferecem segurança e previsibilidade. Mudanças inesperadas podem causar desconforto ou crises.
Possíveis sinais:
Movimentos repetitivos (balançar o corpo, bater as mãos, girar objetos)
Foco intenso em um único interesse ou assunto
Aversão a mudanças na rotina ou no ambientePreferência por objetos organizados de forma específica (enfileirar brinquedos, por exemplo)
Hipersensibilidade ou hipossensibilidade sensorial
Muitos autistas experimentam o mundo de forma sensorialmente intensa ou reduzida. Isso pode afetar sua reação a sons, luzes, cheiros, sabores ou texturas.
Possíveis sinais:
Irritação com sons comuns (aspirador, sirene, vozes altas)
Desconforto extremo com certos tecidos ou etiquetas de roupas
Interesse incomum por luzes, texturas ou cheiros
Falta de resposta à dor ou estímulos táteis fortes
Essas manifestações podem surgir desde os primeiros anos de vida, e o grau de intensidade varia muito. Por isso, a observação cuidadosa dos sinais do autismo é essencial para que o diagnóstico e o suporte adequado aconteçam o quanto antes.
Quais são os tipos de autismo?
Durante muitos anos, o autismo foi dividido em diferentes categorias clínicas, o que gerava dúvidas tanto entre profissionais quanto nas famílias. Essa classificação estava presente no DSM-IV e incluía tipos como síndrome de Asperger, autismo infantil, entre outros.
No entanto, com a atualização do DSM-5, publicada em 2013, todos esses subtipos passaram a ser agrupados sob um único diagnóstico: Transtorno do Espectro Autista (TEA). A razão para essa mudança foi a constatação de que essas condições compartilhavam muitas características comuns, com variações apenas no grau de suporte necessário.
A seguir, explicamos brevemente os principais tipos clássicos reconhecidos antes da padronização atual:
Síndrome de Asperger
A síndrome de Asperger foi durante anos considerada um “tipo leve” de autismo. Pessoas com esse diagnóstico geralmente possuem inteligência na média ou acima da média e não apresentam atrasos significativos na linguagem verbal.
Características principais:
Dificuldades marcantes de interação social
Comunicação verbal preservada, mas com uso formal ou pouco natural
Interesses restritos e intensos (foco exagerado em temas específicos)
Dificuldades em interpretar regras sociais implícitas
Hoje, quem antes era diagnosticado com Asperger é incluído no espectro autista com nível 1 de suporte, conforme critérios do DSM-5.
Autismo clássico (síndrome de Kanner)
Conhecido também como “autismo infantil precoce”, é a forma mais reconhecida do transtorno e foi descrita pela primeira vez por Leo Kanner em 1943.
Características principais:
Atraso ou ausência de linguagem verbal
Pouco interesse por interações sociais
Isolamento, rigidez comportamental e resistência a mudanças
Repetição de comportamentos e movimentos
Pessoas com esse perfil geralmente precisam de suporte mais intenso no dia a dia.
Transtorno desintegrativo da infância
Trata-se de uma condição rara, em que a criança apresenta um desenvolvimento típico até cerca de 2 ou 3 anos, seguido de uma regressão abrupta em múltiplas áreas: linguagem, habilidades sociais, controle esfincteriano, entre outras.
Características principais:
Perda de habilidades previamente adquiridas
Regressão significativa e progressiva
Comportamentos semelhantes ao autismo clássico após a regressão
Esse tipo também foi absorvido no espectro autista pelo DSM-5.
PDD-NOS (Transtorno invasivo do desenvolvimento sem outra especificação)
Esse diagnóstico era atribuído a crianças que apresentavam sintomas do espectro autista, mas que não se encaixavam completamente nos critérios para os demais subtipos.
Características principais:
Sinais de autismo em diferentes áreas, mas de forma atípica ou incompleta
Quadro mais leve ou com início tardio dos sintomas
O PDD-NOS também deixou de ser uma categoria independente com a reformulação do DSM-5.
A visão atual: o espectro autista como uma única condição
Hoje, o autismo é entendido como uma condição única, mas com diferentes níveis de intensidade e suporte necessários. Essa abordagem permite um diagnóstico mais preciso, levando em conta a individualidade de cada pessoa.
Segundo o DSM-5 e a CID-11, o TEA é classificado com base no grau de suporte necessário:
Nível 1 – requer apoio
Nível 2 – requer apoio substancial
Nível 3 – requer apoio muito substancial
Essa mudança fortalece uma visão mais inclusiva e individualizada, valorizando a diversidade dentro do espectro.
Como é feito o diagnóstico do TEA?
O diagnóstico do autismo é feito por meio da observação clínica do comportamento e da avaliação do desenvolvimento neuropsicomotor da criança. Ele não se baseia em exames laboratoriais ou de imagem, mas sim na análise detalhada de como a pessoa se comunica, interage socialmente e se comporta diante de diferentes situações.
Segundo os critérios do DSM-5 e da CID-11, o diagnóstico exige que os sintomas estejam presentes desde a primeira infância, mesmo que só se tornem plenamente reconhecíveis mais tarde, quando as demandas sociais excedem as capacidades da criança.
Idade ideal para detecção precoce
Embora os sinais iniciais possam aparecer antes dos 2 anos de idade, o diagnóstico formal costuma ser feito entre os 2 e 3 anos, quando o desenvolvimento esperado começa a se diferenciar de forma mais evidente. No entanto, há casos em que o autismo é identificado apenas na adolescência ou na vida adulta, especialmente nos perfis considerados mais leves.
Detectar o TEA precocemente é fundamental para iniciar o acompanhamento o quanto antes, o que pode melhorar significativamente o desenvolvimento da criança.
Profissionais envolvidos no diagnóstico
O diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista geralmente envolve uma equipe multidisciplinar, com profissionais capacitados para analisar diferentes aspectos do comportamento e do desenvolvimento:
Neuropediatra
Psiquiatra infantil
Psicólogo clínico
Fonoaudiólogo
Terapeuta ocupacional
Esses especialistas podem aplicar testes, conversar com os pais, observar a criança em diferentes contextos e usar escalas de rastreamento.
Ferramentas e critérios diagnósticos
Entre as ferramentas mais utilizadas no processo diagnóstico estão:
M-CHAT-R/F (rastreamento para crianças entre 16 e 30 meses)
ADI-R (Entrevista Diagnóstica para Autismo)
ADOS-2 (Escala de Observação para Diagnóstico de Autismo)
CARS (Escala de Avaliação de Autismo Infantil)
Vineland (Escala de comportamento adaptativo)
O profissional também utiliza os critérios definidos pelo DSM-5, que exigem sintomas nos dois domínios principais:
Déficits persistentes na comunicação social e na interação social
Padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades
Sinais de alerta por faixa etária
Antes dos 12 meses:
Pouco contato visual
Não sorri em resposta a interações sociais
Pouca resposta ao próprio nome
Falta de balbucio ou gestos como apontar
Entre 1 e 2 anos:
Atraso na fala ou ausência de palavras
Dificuldade em imitar sons ou gestos
Falta de interesse em brincadeiras sociais
Reações incomuns a estímulos sensoriais
👦 Após os 2 anos:
Uso repetitivo da linguagem (ecolalia)
Isolamento social
Resistência a mudanças na rotina
Movimentos repetitivos (como balançar o corpo, bater as mãos)
Esses sinais não confirmam o diagnóstico por si só, mas indicam a necessidade de avaliação especializada.
Quais são os tratamentos e terapias para o autismo?
O tratamento do autismo, ou Transtorno do Espectro Autista (TEA), é mais eficaz quando realizado por uma equipe multidisciplinar e personalizado de acordo com as necessidades de cada indivíduo.
Como o TEA é uma condição ampla, as opções terapêuticas para autismo variam de acordo com o nível de suporte necessário e as características específicas da pessoa.
As intervenções devem ser baseadas em evidências científicas, ter foco no desenvolvimento de habilidades sociais, comunicativas e adaptativas, e envolver a participação ativa da família.
Terapia ABA (Análise do Comportamento Aplicada)
A ABA (Applied Behavior Analysis) é uma das abordagens mais reconhecidas no tratamento do autismo. Seu objetivo é promover o desenvolvimento de comportamentos funcionais e reduzir comportamentos que dificultam a aprendizagem e a socialização.
Como funciona:
A terapia é estruturada com metas individualizadas
Envolve reforço positivo para estimular o aprendizado
Pode ser aplicada em ambientes clínicos, escolares ou domiciliares
Tem resultados especialmente eficazes quando iniciada precocemente
Fonoaudiologia
A fonoaudiologia é essencial quando há atraso ou alterações na fala, linguagem ou comunicação não verbal. Muitos autistas têm dificuldade em compreender e expressar ideias, mesmo com vocabulário preservado.
Foco da intervenção:
Estimular a linguagem receptiva e expressiva
Trabalhar a comunicação alternativa (como PECS) quando necessário
Melhorar a articulação, entonação e uso social da linguagem
Terapia ocupacional e integração sensorial
A terapia ocupacional atua para melhorar a autonomia e as habilidades do dia a dia. Já a integração sensorial ajuda o indivíduo a processar melhor os estímulos do ambiente.
Principais benefícios:
Desenvolver coordenação motora fina e global
Ajudar na alimentação, vestuário, higiene e outras atividades cotidianas
Reduzir reações adversas a sons, luzes, cheiros ou texturas
Criar estratégias para lidar com sobrecargas sensoriais
Apoio escolar e inclusão
O suporte dentro da escola é fundamental para garantir o desenvolvimento acadêmico e social da criança com TEA. A inclusão vai além da presença física: requer adaptações pedagógicas e capacitação da equipe escolar.
Formas de apoio:
Plano de ensino individualizado (PEI)
Acompanhamento de professor auxiliar ou mediador
Adaptações sensoriais e de comunicação no ambiente escolar
Parceria entre escola, família e terapeutas
O tratamento do autismo deve ser contínuo, ajustado ao longo do tempo, e sempre centrado na qualidade de vida da pessoa autista. O envolvimento familiar, a escuta ativa das necessidades da criança ou adulto, e o respeito às suas particularidades são pilares fundamentais para que o processo seja verdadeiramente eficaz.
Meu filho foi diagnosticado com autismo. O que devo fazer?
Receber o diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA) pode ser um momento de grande impacto para qualquer família. É natural que surjam sentimentos como medo, dúvida, insegurança ou até mesmo culpa — mas é importante lembrar que o diagnóstico não define o potencial do seu filho.
Ele é, acima de tudo, um passo importante para garantir os cuidados adequados e um futuro com mais qualidade de vida. Abaixo, reunimos orientações práticas e acolhedoras para ajudar você a lidar com esse momento com mais clareza e tranquilidade.
Acolhimento emocional dos pais
Antes de agir, respire. Você não está sozinho. Buscar apoio emocional é fundamental para lidar com o novo cenário. Aceitar o diagnóstico não significa desistir, mas sim entender que seu filho tem um jeito único de ser, aprender e se comunicar.
Dicas importantes:
Procure conversar com profissionais que expliquem o diagnóstico com empatia
Participe de grupos de pais ou familiares que vivenciam o TEA
Evite sobrecarga de informações; busque fontes confiáveis
Respeite o seu tempo de processamento emocional
Próximos passos práticos
Após o diagnóstico, é hora de montar uma rede de suporte. Esse planejamento vai ajudar a construir um ambiente estável, terapêutico e seguro para o desenvolvimento da criança.
O que fazer:
Busque uma equipe multidisciplinar (neuropediatra, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, psicólogo)
Inicie as terapias recomendadas o quanto antes
Mantenha o acompanhamento médico periódico
Estabeleça uma rotina previsível e acolhedora em casa
Converse com a escola sobre adaptações pedagógicas e inclusão
A intervenção precoce faz diferença, mas cada criança tem seu ritmo. O mais importante é garantir acesso ao suporte necessário.
Direitos garantidos pela lei brasileira
A legislação brasileira reconhece os direitos das pessoas com autismo. Um dos marcos mais importantes é a Lei nº 12.764/2012, conhecida como Lei Berenice Piana, que garante à pessoa com TEA os mesmos direitos de qualquer cidadão, incluindo:
Atendimento multiprofissional pelo SUS
Educação inclusiva com adaptações necessárias
Prioridade em filas, vagas e atendimento público
Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (CIPTEA)
Benefício de Prestação Continuada (BPC), em alguns casos
É fundamental conhecer e exigir esses direitos, pois eles asseguram condições para que seu filho tenha acesso à saúde, educação e qualidade de vida com dignidade.
Cada passo importa.
Com acolhimento, informação de qualidade e suporte adequado, seu filho poderá desenvolver suas potencialidades e viver uma vida plena e significativa. Você está no caminho certo — e não precisa caminhar sozinho.
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