Fui diagnosticado com TDAH: o que devo fazer?
- Aline D'Avila
- 27 de nov. de 2024
- 4 min de leitura
Atualizado: 15 de abr.
Receber o diagnóstico de TDAH na vida adulta pode ser um divisor de águas. Muitas pessoas passam anos enfrentando dificuldades com desatenção, desorganização, esquecimentos, impulsividade e relacionamentos, sem entender o porquê.
Embora o TDAH seja amplamente associado à infância, muitos adultos descobrem o transtorno tardiamente. Estudos apontam que entre 2,5% a 4,4% dos adultos apresentam TDAH, sendo que muitos não foram diagnosticados devido a estigmas ou falta de conhecimento sobre os sintomas na fase adulta (KESSLER et al., 2006).
Diagnóstico de TDAH: Impactos do diagnóstico tardio
O diagnóstico de TDAH - Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, na vida adulta pode trazer uma compreensão profunda sobre muitos dos desafios enfrentados ao longo dos anos. Entretanto, os impactos do transtorno vão além das dificuldades no trabalho ou nos estudos; eles se manifestam em diversas áreas da vida pessoal, afetando emoções, relacionamentos e até mesmo a saúde mental.
Um dos impactos mais significativos está relacionado à autoestima. Muitos adultos com TDAH relatam um histórico de frustrações, críticas constantes e sensação de incapacidade. A dificuldade em concluir tarefas, manter o foco ou gerenciar o tempo leva frequentemente a sentimentos de inadequação e insegurança.
Esses fatores podem resultar em ansiedade, estresse crônico e, em alguns casos, depressão. Reconhecer que esses padrões estão ligados ao transtorno e não a uma falha pessoal é essencial para iniciar o processo de mudança (KESSLER et al., 2006).
Nos relacionamentos, o TDAH pode causar conflitos. Parceiros e familiares podem interpretar comportamentos como esquecimento, impulsividade ou dificuldade em ouvir como desinteresse ou falta de consideração. Isso pode gerar tensões, cobranças e até afastamento emocional.
Por outro lado, com o diagnóstico, é possível iniciar um diálogo mais aberto e buscar formas de adaptar as interações familiares, fortalecendo os vínculos e diminuindo os mal-entendidos (FARAONE et al., 2021).
Outro impacto significativo é a dificuldade em manter uma rotina equilibrada. Muitos adultos com TDAH têm problemas para gerenciar compromissos, organizar finanças ou manter um ambiente doméstico funcional. Esses desafios podem levar a sentimentos de sobrecarga e desorganização crônica.
No entanto, com estratégias adequadas, como a criação de listas de tarefas e o uso de lembretes, é possível transformar essa desorganização em um sistema mais funcional e adaptado às suas necessidades (KNOUSE & SAFREN, 2010).
O trabalho também é uma área frequentemente afetada. Prazos perdidos, dificuldade em manter a concentração e problemas de produtividade são queixas comuns. Além disso, ambientes muito estruturados ou com muitas distrações podem intensificar os sintomas do TDAH, gerando frustrações.
Ao identificar e implementar mudanças práticas, como dividir grandes projetos em pequenas etapas e negociar acomodações no ambiente de trabalho, é possível aumentar a eficiência e reduzir o estresse (FARAONE et al., 2021).
Por fim, o impacto emocional do diagnóstico pode ser profundo. Para muitos, descobrir o TDAH na fase adulta traz um misto de alívio e preocupação. Alívio por finalmente entender as dificuldades enfrentadas, mas também preocupação com o que isso significa para o futuro.
É essencial lembrar que, com apoio especializado, mudanças práticas e estratégias terapêuticas, é possível superar essas barreiras. O diagnóstico é apenas o início de um processo de autocompreensão e transformação que pode levar a uma vida mais equilibrada e gratificante.
E então, o que fazer ao ser diagnosticado com TDAH?
Após receber o diagnóstico de TDAH, o primeiro passo é buscar ajuda de uma equipe multidisciplinar para entender e manejar o transtorno de forma eficaz. O padrão ouro atualmente é uma combinação entre o tratamento medicamentoso e psicoterápico.
Sendo assim, o auxílio do profissional psiquiatra é fundamental, haja vista ele avaliar se o uso de medicação é necessário para você. Medicamentos como estimulantes (metilfenidato e lisdexanfetamina) e não estimulantes (atomoxetina) são amplamente usados no tratamento do TDAH, ajudando a melhorar o foco, a reduzir a impulsividade e a aumentar a produtividade (FARAONE et al., 2021).
É essencial conversar com o psiquiatra para compreender os benefícios e possíveis efeitos colaterais dos medicamentos, lembrando que a medicação é uma ferramenta importante, mas quando combinada com outras abordagens, como a psicoterapia.
Dentre as terapias, aTerapia Cognitivo-Comportamental (TCC) é altamente recomendada para TDAH, pois trabalha diretamente com a reestruturação de padrões de pensamento disfuncionais e o desenvolvimento de estratégias práticas para lidar com os desafios do dia a dia.
Com a ajuda do psicólogo, você pode identificar gatilhos de procrastinação, aprender a priorizar tarefas e trabalhar questões como autoestima e autocuidado, que muitas vezes são afetados pelo transtorno (KNOUSE & SAFREN, 2010).
Superar os desafios do TDAH
Superar os desafios do TDAH na vida adulta é uma jornada contínua, mas plenamente possível. O diagnóstico marca o início de um processo de autocompreensão, permitindo que você reconheça as dificuldades enfrentadas e tome medidas para transformar sua rotina.
Ao buscar apoio, adotar estratégias terapêuticas eficazes e fazer ajustes no ambiente e na organização do dia a dia, é possível alcançar maior equilíbrio e produtividade. É importante lembrar que o progresso ocorre de forma gradual, e ser paciente consigo mesmo faz toda a diferença. Celebre cada conquista, por menor que pareça, e veja os obstáculos como oportunidades para crescer e se redescobrir.
Referências
Faraone, S. V., Banaschewski, T., Coghill, D., et al. (2021). The World Federation of ADHD International Consensus Statement: 208 Evidence-based Conclusions about the Disorder. Neuroscience & Biobehavioral Reviews, 128, 789-818.
Knouse, L. E., & Safren, S. A. (2010). Current status of cognitive behavioral therapy for adult attention-deficit hyperactivity disorder. Psychiatric Clinics of North America, 33(3), 497-509.
Kessler, R. C., Adler, L., Barkley, R., et al. (2006). The prevalence and correlates of adult ADHD in the United States: Results from the National Comorbidity Survey Replication. American Journal of Psychiatry, 163(4), 716-723.
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