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Transtorno Bipolar: o que é, como identificar e lidar com a doença

  • Foto do escritor: Aline D'Avila
    Aline D'Avila
  • 15 de out.
  • 5 min de leitura

Viver com emoções intensas faz parte da experiência humana. Todos temos dias bons e ruins. Mas para quem convive com o transtorno bipolar, essas variações emocionais ultrapassam os limites do comum. São altos e baixos que afetam a forma de pensar, agir e se relacionar com o mundo.


O transtorno bipolar é uma condição de saúde mental que impacta milhões de pessoas no mundo e pode se manifestar de formas bastante distintas, da euforia extrema à tristeza profunda, muitas vezes no intervalo de dias ou até horas.


Entender como ele funciona, aprender a reconhecer seus sinais e saber como buscar ajuda é essencial não só para quem suspeita estar passando por isso, mas também para familiares, amigos e sociedade em geral.


O que é Transtorno Bipolar?


O transtorno bipolar é uma condição psiquiátrica caracterizada por alterações intensas e cíclicas de humor. Essas oscilações não são simples mudanças emocionais: são episódios profundos e duradouros de euforia (mania ou hipomania) e depressão, com impacto direto no comportamento, energia, sono, tomada de decisões e vida social.


Durante a fase maníaca, a pessoa pode se sentir invencível, cheia de ideias, com autoestima elevada e energia inesgotável — o que pode parecer produtivo no início, mas geralmente leva a comportamentos impulsivos e fora da realidade.


Já na fase depressiva, a mesma pessoa pode se sentir arrasada, sem energia, sem esperança e até pensar em suicídio.


Importante: o transtorno bipolar não é um traço de personalidade, nem uma simples “instabilidade emocional”. É um transtorno clínico sério, que requer acompanhamento médico e psicológico.


Como é uma pessoa com bipolaridade?


Pessoas com transtorno bipolar vivem em constante batalha interna para manter o equilíbrio emocional. Em alguns momentos, elas podem parecer mais animadas, falantes e confiantes do que o normal. Em outros, podem se isolar completamente, mergulhadas em pensamentos negativos e sem vontade de sair da cama.


Durante a fase de mania ou hipomania, comportamentos como:

  • Falar sem parar, interrompendo os outros

  • Fazer planos grandiosos e irreais

  • Gastar dinheiro impulsivamente

  • Dormir pouco, mas sem sentir cansaço

  • Tomar decisões arriscadas no trabalho, nos relacionamentos ou na vida financeira


Já na fase depressiva, surgem sintomas como:

  • Tristeza profunda e prolongada

  • Perda de interesse por atividades que antes davam prazer

  • Sensação de culpa ou inutilidade

  • Dificuldade de concentração

  • Pensamentos suicidas


E entre uma fase e outra, pode haver períodos de estabilidade, em que a pessoa se sente bem — o que muitas vezes adia o diagnóstico, já que parece que “voltou ao normal”.


Quais são os 4 tipos de bipolaridade?


Transtorno Bipolar Tipo I


Caracteriza-se pela presença de pelo menos um episódio de mania completa, que pode ser acompanhado ou não de episódios depressivos. A mania, nesses casos, dura pelo menos 7 dias ou exige hospitalização imediata. Nessa fase, a pessoa pode perder o contato com a realidade (psicose), o que torna esse tipo o mais grave clinicamente.


Transtorno Bipolar Tipo II


Nesse caso, os episódios de hipomania (uma forma mais branda de mania) alternam-se com episódios de depressão maior. A hipomania não é incapacitante, mas é notável — a pessoa está mais acelerada, energética e impulsiva. No entanto, as fases depressivas são longas e debilitantes. Muitas vezes, esse tipo é confundido com depressão comum.


Ciclotimia


É uma forma mais leve, mas crônica, de bipolaridade. A pessoa passa por inúmeros episódios de sintomas hipomaníacos e depressivos ao longo de pelo menos dois anos, mas sem atingir os critérios formais para mania ou depressão maior. Pode ser difícil de identificar, mas causa sofrimento e instabilidade emocional constantes.


Transtorno bipolar não especificado (TBNE)


Esse diagnóstico é usado quando os sintomas bipolares estão presentes, mas não se encaixam perfeitamente nas classificações anteriores. É uma categoria importante para que o paciente receba suporte, mesmo que o quadro não siga o "manual".


Quais são os primeiros sinais de bipolaridade?


Os primeiros sinais muitas vezes passam despercebidos, porque podem parecer apenas “fases” ou reações a momentos da vida. Mas existem padrões que se repetem:


  • Mudanças súbitas e intensas de humor, sem motivo claro

  • Alterações no sono: dormir muito pouco ou demais

  • Aumento repentino de energia ou irritabilidade

  • Gastos impulsivos ou decisões imprudentes

  • Fala acelerada, dificuldade de manter a linha de raciocínio

  • Sensação de estar “no topo do mundo” seguida de queda emocional drástica

  • Episódios depressivos com pensamentos de culpa, inutilidade ou morte


Reconhecer esses sinais precoces pode acelerar o diagnóstico e melhorar o prognóstico.


Como saber se sou bipolar?


A única forma confiável de saber se você tem transtorno bipolar é procurar avaliação especializada com um psiquiatra. O diagnóstico não se baseia em um exame de sangue ou imagem, mas sim na avaliação neuropsicológica clínica e no relato do paciente ao longo do tempo.


Você pode levantar algumas questões que ajudam na percepção:


  • Já teve períodos em que se sentiu extremamente eufórico, com autoestima elevada e ideias aceleradas?

  • Já fez coisas impulsivas das quais se arrependeu depois?

  • Suas fases de tristeza duram semanas e afetam sua rotina?

  • Outras pessoas já comentaram que você muda de humor repentinamente?

  • Já ouviu de médicos que sua depressão parece “diferente”?


Se a resposta for “sim” para várias dessas perguntas, isso não confirma o diagnóstico, mas indica que vale a pena buscar uma avaliação profissional.


Sintomas comuns do transtorno bipolar


  • Mania/Hipomania:

    • Euforia ou irritabilidade extrema

    • Fala rápida, pensamento acelerado

    • Insônia com energia de sobra

    • Ideias de grandeza (achar que tem poderes especiais, por exemplo)

    • Baixo senso de risco ou julgamento

  • Depressão:

    • Tristeza profunda

    • Cansaço extremo

    • Pensamentos negativos recorrentes

    • Falta de prazer em atividades

    • Lentidão motora e cognitiva

  • Episódios mistos:

    • Agitação com desesperança

    • Energia alta com tristeza intensa

    • Ansiedade extrema com raiva


Esses sintomas podem surgir em ciclos que variam de pessoa para pessoa — alguns duram semanas, outros aparecem em questão de horas.


Diagnóstico do transtorno bipolar


O diagnóstico é feito com base em entrevistas clínicas e observação dos sintomas ao longo do tempo. Não existe um único exame que “detecte” a bipolaridade. O processo leva em conta:


  • Histórico de episódios maníacos, hipomaníacos e depressivos

  • Duração e frequência das crises

  • Impacto na vida da pessoa

  • Exclusão de outras condições, como TDAH, esquizofrenia ou transtorno de personalidade


O tempo médio entre o início dos sintomas e o diagnóstico correto pode ultrapassar 10 anos — por isso, o autoconhecimento e a informação são cruciais.


Tratamentos para bipolaridade


O tratamento do transtorno bipolar envolve uma abordagem combinada e de longo prazo:

  • Medicamentos: os mais usados são estabilizadores de humor (como o lítio), antipsicóticos atípicos e, com cautela, antidepressivos. A dosagem é individualizada e requer acompanhamento constante.

  • Psicoterapia: abordagens como Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) ajudam o paciente a reconhecer padrões de comportamento, controlar gatilhos e desenvolver estratégias de enfrentamento.

  • Psicoeducação: aprender sobre a própria condição é fundamental para o controle e adesão ao tratamento.

  • Mudanças de estilo de vida:

    • Manter uma rotina estável de sono e alimentação

    • Reduzir o estresse e evitar estimulantes

    • Eliminar ou reduzir o consumo de álcool e drogas

    • Praticar atividades físicas regularmente


Quando bem tratado, o transtorno bipolar pode ser controlado, e a pessoa pode viver com qualidade, autonomia e estabilidade.


Conclusão


O transtorno bipolar não define quem você é, mas entender essa condição é o primeiro passo para tomar o controle da sua vida. Diagnóstico não é sentença, é libertação.


Buscar apoio profissional adequado inclui não só a avaliação psiquiátrica, mas também a avaliação neuropsicológica, que pode identificar padrões cognitivos e emocionais associados ao transtorno. Essa análise contribui para diagnósticos mais precisos e planos de tratamento personalizados.


Com tratamento bem direcionado, acompanhamento contínuo e autoconhecimento, é possível viver com estabilidade, propósito e qualidade. Se você reconhece em si ou em alguém próximo sinais semelhantes, procurar ajuda é um passo essencial, e a neuropsicologia pode ser uma aliada poderosa nessa jornada.

 
 
 

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